quarta-feira, 6 de março de 2013

A minha infância

Tão diferente.
De malas aviadas.
Uma parte dela foi passada numa quinta no Alentejo.
Com tudo o que as quintas têm.
Animais, caseiros, empregados, relógios de cuco, natureza, animais, corridas, amigos, ar livre, 
LIBERDADE.
Liberdade para correr.
Para brincar com paus e pedras.
Liberdade para explorarmos a terra.
Picarmos as mãos nas urtigas.
Esborrachar azeitonas.
Liberdade para ter as unhas sujas de terra.
Para comermos papo-secos ao lanche.
Lembro-me do cheiro a açúcar e canela das boleimas.
Lembro-me quando peguei, pela primeira vez, numa enxada.
E quando dei, pela primeira vez, comida aos porcos.
Ainda tenho o cheiro a terra presente.
Tive uma casa na árvore. 
E um tanque. 
Dos grandes. Que era, para nós, a cereja no topo da quinta.
Num fim-de-semana era para as raparigas, no outro para os rapazes.
Mas antes de ser "nosso" tínhamos de o limpar, e primeiro que enchesse... era o dia todo.
Quando me lembro desse tempo...
Ui... 
(suspiro).
Lembro-me do meu cheiro, na altura. 
Cheirava a campo. A corrida. A liberdade.
Lembro-me que não via televisão. 
Tudo era brincadeira.
Fiz o pino e a ponte em cada canto daquela quinta. 
Mas o melhor de tudo...
O melhor ano que passei lá...
Foi o ano em que o meu irmão António veio viver connosco. 
(Ele é dez anos mais velho que eu e nove que o meu irmão Carlos). 
Esse ano foi GARANTIDAMENTE o melhor. 
Foi a felicidade.
Ele era tudo para nós.
Lembro-me que os nossos olhos brilhavam de o ver. 
Dava-nos abraços, corria connosco, protegia-nos. Fazia-nos rir. 
Deixava que dormíssemos no quarto dele.
Gostava TANTO de nós.
Era o nosso herói. 
Lembro-me de ver os meus irmãos a correrem atrás dos faisões. 
E hoje, quando olhei para os meus dois filhos, lembrei-me deste tempo.
Lembrei-me de mim.
Lembrei-me que os irmãos representam muito na nossa vida.
Que devo muito da minha felicidade a eles.
Que os tenho no coração. 
Que somos uma equipa.
E, em todas as minha memórias, tenho sempre uma pessoa comigo.
Tive sempre um companheiro.
Nunca existi sem ele...
O meu irmão Carlos.
(Por essa mesma razão foi a pessoa que escolhi para me levar ao altar).











2 comentários:

  1. e depois havias os fins de semana passados no lumiar, onde o colo do "velho" almirante acomodava uma Ana em cada perna...

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    1. Ohhh mesmo. Tenho de escrever sobre isso. Sobre esse colo. Tão bom :)

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