sábado, 2 de janeiro de 2016

Sobre a vida



Eu não estou só viva, eu sinto-me viva.
Sinto a vida em tudo.
No acordar - quando nos vejo acordar em família. 
Quando o sol bate na janela ou a chuva me encharca a roupa.
Em todos os segundos da nossa existência.
Quando saltam para a nossa cama e nos enchem de beijos.
Quando fazem birras e precisam de nós.
Quando fecho os olhos e me lembro de tudo o que já fizemos.
Sou intuitiva e emotiva.
Sigo os meus instintos.
Sou do colo, de sentir, agarrar, amar, aproveitar, agradecer.
Adoro a fase da amamentação.  
Sou a mãe que não tem pressa nem timings para tudo.
Não tomo decisões que me angustiem só porque é suposto. 
Vivo os meus sonhos. 
Procuro e trabalho pelos dias felizes. 
Aproveito os dias - mesmo os que são duros e exigentes. 
Os que estou sozinha com eles, que me sinto exausta, cansada, desesperada.
São esses dias que me fazem ser tão grata pelos dias de sol.
Sou dos afetos e das palavras.
Sou inteira e dedicada.
Sou uma mulher e mãe cheia de fragilidades e de paz.
Estou onde sempre sonhei estar. 
Falta-me o alentejo (vivi lá a minha infância)
Falta-me tempo para amar ainda mais.
Dar de mim aos outros - e tantos projetos que tenho relacionados com isso. 
Lembro-me do cheiro a açúcar e canela das boleimas.
Lembro-me quando peguei, pela primeira vez, numa enxada.
E quando dei, pela primeira vez, comida aos porcos.
Ainda tenho o cheiro a terra presente.
Tive uma casa na árvore. 
E um tanque. 
Vive em mim sempre esta vontade de querer ir, de querer conhecer, de arriscar. 
Odeio este trânsito, estas pressas e obrigações que roubam o tempo às pessoas. 
E enquanto estava a escrever isto, leio esta carta de uma avó para a neta: aqui do blog A Mãe é sabe. 

"(...) Digo-te, com a fragilidade que estas palavras encerram, que me ensinas todos os dias que a verdade da vida explode nas coisas simples que me dás, gratuita e genuinamente, na força dos teus abraços, na alegria espontânea desse olhar puro que me enche a alma.
(...)

Seria tão mais fácil aos homens, sabes estas pessoas que se dizem adultos, aprenderem contigo que a vida se está a descobrir, assim minuto a minuto.
(...)

Meu amor, trazes contigo a energia vital que poderia impedir os medos do mundo, trazes contigo essa suspensão dos receios que inibem o mundo girar em torno do que verdadeiramente interessa, amor, confiança, persistência.
(...)

Como disse Mia Couto, "a vida é tão simples que ninguém a entende"… "

Um beijo a esta avó que sente assim a neta e a vida. 
Que escreveu o que sinto, exatamente o que sinto.
E a todas as pessoas do mundo que se entregam assim de corpo e alma.
Amo-vos filhos, muito mais do que alguma vez vão conseguir imaginar.
Mas muito mais do que amar, eu aproveito ao máximo a vida ao vosso lado.
E isso para mim é viver. 

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