quinta-feira, 9 de março de 2017

"Passar a felicidade"


O tanto que eu dava, às vezes em excesso, é o que eu procurava.
Dava aos outros aquilo que precisava para mim.
E às vezes a balança desequilibrava.
Porque por muito que desse, parecia-me sempre insuficiente.
Como se precisasse sair daqui, mudar de vida, dedicar-me a uma causa maior.
E dez por cento de mim vivia nessa angústia. Nesta falta de enquadramento.
Até que o Vicente (quatro anos - o filho do meio) me diz:
-Mãe quando crescer vou fazer como tu. Vou passar a felicidade.
E esta frase deu-me uma paz tão boa.
Uma tranquilidade tão grande.
Não preciso ir para longe tentar minimizar os males do mundo. Como se tivesse culpa do mal que existe.
Mas posso tornar-me melhor. Cuidar de quem me rodeia. Olhar para o lado. Ajudar quem vive em frente. Ser para eles.
Posso passar a felicidade. Cuidar dos outros. Cuidar de mim.
Nunca vou conseguir dar tudo, dar tanto, sem desaparecer no meio disso.
Essa está a ser a minha grande mudança.
Dou, consciente que posso falhar e que ainda assim está tudo bem.
Sou, consciente que não é por dedicar tanto aos outros que vou cicatrizar algumas faltas em mim.
Se não for a primeira mãe a chegar ao colégio, não vou receber o rótulo da pior - e se receber, estou em paz comigo.
O importante não é ser a maior e a melhor e chegar ao fim toda espatifada.
Prefiro aproveitar o caminho e estar inteira.
Viver os momentos - serena.
Continuo a ser feita de determinação, dedicação e amor.
Entrego-me completamente. Sou emoção. Intuição.
Mas agora sabe-me bem quando alguém me dá a mão.
E percebi que andar descalça, sentir a energia boa da vida, cuidar destes miúdos incríveis, respeitar o que me rodeia, amar quem me está próximo, e passar isso aos outros já é tão GIGANTE.
E todas as mudanças começam por algum lado.
Não vamos de carro para a escola vamos a pé.
Não vemos televisão, ouvimos música.
Não querem brinquedos, pedem passeios.
Não gostam de sapatos e adoram azedas.



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